Ensino de Português no EM. Para quê?

Por Betto Ferreira

De acordo com Celso Luft, em sua Moderna Gramática Brasileira (2002), enquanto esquema natural da vida humana e código de linguagem verbal específico do ser humano, a língua existe na cabeça de cada um. Ou seja, em qualquer lugar do mundo, todo homem faz uso de uma determinada Língua para se comunicar verbalmente, ainda que não saiba como isso se processa dentro de si. No caso de nós brasileiros, essa Língua se chama Língua Portuguesa - que muito bem podia se chamar Língua Brasileira, mas isso já é outra discussão. Entretanto, embora seja algo natural, como quase tudo nas relações humanas, a língua também sofre interferências de vários fatores, não tão naturais assim. Tais interferências – que podem ser de ordem política, cultural, geográfica, etc. – acabam, de alguma maneira, se sobrepondo ao esquema natural da língua e exigindo, até como forma de preserva-la, certas normas para o seu uso. Como todos os falantes/usuários, em especial os jovens alunos, estão inseridos no mesmo contexto de sua Língua, faz-se necessário que estes tomem conhecimento dessas normas (ou parâmetros socialmente estabelecidos) a fim de, segundo Luft, saber atuar lingüisticamente usando a própria Língua e não apenas saber a língua. Nesse sentido, saber a língua e saber atuar lingüisticamente têm a ver com aquilo que Chomsky chama de competência (o saber) e performance (saber atuar habilidade). Portanto, como componente curricular do Ensino Médio, se bem fundamentado, inserido no contexto lingüístico e literário, o estudo da Língua Portuguesa pode contribuir, e muito, no sentido de tornar o jovem aluno um ser lingüístico mais atuante, tanto como leitor/ouvinte quanto escritor/falante. Em especial no mundo globalizado de hoje, como todo conhecimento (invenções, descobertas, estudos, etc.), se manifesta por meio da Língua verbal (oral ou escrita), saber atuar lingüisticamente ( ou seja, ter habilidade no uso da Língua) é requisito imprescindível na formação intelectual e cultural do homem moderno.

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