Sobre trabalho, dar aulas e resignação
         O professor estava prestes a retomar o assunto sobre texto e discurso, interrompido na aula anterior pelo som da sirene, quando um aluno, do grupo dos mais reiterados, o interrompeu, perguntando:   - Professor, o senhor trabalha ou só dá aulas?   Raro um professor com mais de dez anos de giz na mão (e pó na cara, pois é assim que é) que já não tenha ouvido isso. Ainda mais dito assim: sem nenhum zelo de quem diz com o dizer, por ser quem diz: um jovem aluno, do segundo ano do Ensino Médio. Apenas como um ingênuo pretexto para infringir na aula.   Uma esparrela, portanto, né mesmo? creditou o professor. Mas nem por isso indigna de atenção, ponderou: era preciso relevar o assunto. Precisava somente de uma boa dialética-pedagógica. Tipo assim: o que dizer e como dizer do que foi dito.   Por isso, fingiu desatenção:   - Não entendi, disse.   - Dizem que professor não trabalha, só dá aula.   Repetiu o menino, do mesmo jeito. Sem compromisso. Somente um ingênuo e ...