Yes, we speaker english!





Uma pesquisa apontou e a imprensa, atenta ao gosto brasileiro pelo fracasso do brasileiro, alardeou com satisfação: como se não bastasse sermos sofríveis em português, somos péssimos também em inglês. Em termos de fluência da língua saxão, conforme a pesquisa, nós ficamos em último entre os cinquenta e poucos países pesquisados.

Ufa! Que alívio, pelos menos estamos a frente da maioria dos países do mundo. Do contrário, talvez até já tivéssemos perdido o status de gente.

Para a imprensa, no entanto, a pesquisa só confirma o nosso atraso, a nossa pobreza de povo. Povo que não fala a língua universal (status dado ao código linguístico do Tio Sam) é medíocre, em especial, quando este povo vai sediar a próxima Copa do Mundo, as Olimpíadas e luta desesperadamente por uma cadeira permanente no conselho da ONU. Não falar inglês é imperdoável.

No dia em que a TV deu a notícia da pesquisa, minha filhinha de cinco anos estava comigo. Sua reação foi surpreendente: “Papai, preciso aprender inglês, me põe numa escola que ensine inglês, por favor, eu não quero falar português, não vou ter futuro.” Precisei de algum tempo para convencê-la de que falar português também era bom e que é possível ter futuro (todos terão), se esse for o desejo de alguém, falando apenas português. Língua que, por sinal, ela fala muito bem, apesar de pequena. Infinitamente melhor que o presidente dos Estados Unidos, a pessoa mais poderoso do mundo para o capitalismo ocidental.

Como a maioria do brasileiro, eu também não falo inglês fluentemente, mas dou conta de parte dos parâmetros da língua. E digo sem nenhum pingo de xenobia ou ufanismo que não sou um admirador dela. É que para mim o idioma universal não soa bom para a poesia. Prefiro as línguas latinas. Estas têm melhor sonoridade e são ricas em melodia. Experimente dizer ou ouvir “eu te amo, meu amor” em espanhol, italiano e francês e depois em inglês.

Preferências a parte, não fiquei tão convencido assim do prognóstico da pesquisa. E fui ver se é mesmo verdade que a gente não fala inglês.  Descobri que somos um dos poucos povos do mundo, talvez o único, que faz uso do maior número de palavras e expressões inglesas do mundo sem, contudo, termos o inglês como língua usual. Num rápido estudo, contabilizei mais de mil palavras e expressões, incluindo títulos, produtos e marcas, que estão no uso cotidiano do brasileiro, seja este escolado ou não, das periferias ou dos centros. Não entraram na contagem os termos aportuguesados, como futebol voleibol, basquetebol, gol (na escrita), só para ficar no campo esportivo. Também não se levou em conta nomes de músicas e de artistas americanos que continuam permear o imaginário dos nossos jovens e adolescentes. Aliás, costumo dizer que o maior orgulho do brasileiro não é o futebol, muito menos Pelé, nem o recente Neymar, mas o de falar inglês sem nunca ter estudado a língua. Somos fans of american culture

Segue, em ordem não alfabética,  lista com algumas das palavras e termos do nosso English universe brasileiro, colhidos por mim. Uns com  menor outros com maior frequência, mas todos muito presentes no linguajar do nosso dia a dia.

-Shop, shopping center, show, pop star, delivery, internet, windows, delete, Hollywood, on line, in off, off line, express, cash, sale, start, playground, hall, shift, diet, soft, light, night, iPod, iPed,  break, mouse, speedy, air-bag, high definition (HD), hot dog, compact disk (CD), CD-room, blue tooth, blue ray, video game, freezer, lan house, black, Red Bull, caps lock, control, back space, home, house, download, enter, market (place), trailer, play, business, time, people, notebook, release, coffee break, feedback, love(r), bay-bay, teacher, brother, diskette, word, champion, stop, pit stop, safety car, replay,  self-service, fitness, box, ok, Dun up, Discovery kids, Backardigan, (oh) my God, hello, disk jockey (DJ), ketchup, reality show, remake, kit net, site, home page, fan page, face book, orkut, music, blog, Google, happy hour, sex shop, jeep, ford, camera bag, air bag, drive in, test drive, best drive, penalty, hotel, apple, Microsoft, software, poster, adventure, check list, check in, hamburger, back up, pick up, closet, close (up), network, weekend, Sunday, milk shake, play center, bar man, baby sitter, Cinemark, tattoo, piercing, news, sun block, tickets, let’s go, Chiclets, short, whisky, superman, money, made in, dollar, McLaren, Macdonald, tablet, band aid, surf, skate, cross fox, of road, body board, pat net, help, stress, bulling, e-mail, Smartphone, bike, mountain bike, login, link, fast food, faire fox, explore, guard rail, stop, nuggets, personal trainer, trainee, fitness, wizard, cell up, merchandising, sky, yes, cow boy, tennis, jeans, chicken, notebook, shampoo, out let, fake, drag queen, gay, gol (na fonética), golf, lead, deadline, checkout, zoom (in-out), print, script, MasterCard, park, office boy, home office, home care, iPhone, snow board, west plaza, twitter, YouTube, free, full time, stock car, grill, hit (parade), power point, formula truck, trailer, big brother, black Friday, royalty (ies), poker…

Linguistas de diferentes vertentes afirmam que com cerca de mil e quinhentas palavras uma pessoa já pode se comunicar bem numa língua. Pois bem, pela minha pesquisa, falta pouco para a gente alçar voo rumo ao linguistic english universe. Talvez nos falte mesmo um pouco de articulação somente.

Comentários

Beth Magalhães disse…
Compartilho com você a preferência pelas linguas latinas. Na verdade tenho aversão a dita língua universal. Porém, acabo de descobrir que "falo e entendo" muito bem o inglês.
Ainda me surpreendo com o poder que a mídia exerce, principalmente com nossos jovens e crianças. Se não forem devidamente amparados (exclarecidos) serão futuros admiradores do Tio Sam, desprestigiando o que é nacional.
A escola tem papel fundamental neste cenário.

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