A predisposição como estímulo



Competência é tudo aquilo que adquirimos, de forma natural ou social. Habilidade são as diversas maneiras com as quais realizamos as nossas competências. Ambas podem ser conquistadas, doadas ou ensinadas. Mas jamais rejeitadas. Às vezes, o sujeito tem pouca competência, mas tem boas habilidades. Outras vezes, ainda que as competências sejam vastas, a ausência de habilidades o torna apagado.

Uma receita de bolo é uma das competências de que o boleiro precisa para executar bem a tarefa de fazer um bolo. Outras podem lhe ser também muito úteis para tal realização: os ingredientes, os utensílios e aparelhos e um bom ambiente de trabalho, por exemplo. Ao fazer o bolo, o boleiro pôs em prática suas habilidades a partir das competências adquiridas. As competências podem ser as mesmas, mas a (s) habilidade(s) é que torna(m) o bolo diferente.

No entanto, para adquirir competências doadas e/ou ensinadas, nós precisamos de uma competência ainda maior, uma meta competência: a pré-disposição. A predisposição (também conhecida como curiosidade e atitude) é a maior de todas as competências. Sem ela, nada feito. Por ser natural, ela não pode ser ensinada, nem dada. Ela deve estar no indivíduo, em maior ou menor grau. Predisposição não significa submissão, significa atenção. Sempre permeada de curiosidade. Essa é a lógica do bom aprendizado de competências.

Na escola, as competências são geralmente do tipo ensinadas ou doadas, o que não significa imposição de quem ensina nem submissão de quem as recebe: são as teorias, as formas, os conceitos, os livros, os textos, as disciplinas de forma geral. Além é claro de outros recursos materiais, como os objetos escolares necessários e um bom ambiente para o exercício da relação entre ambas. Para ensinar competências e trabalhar as habilidades, o professor também necessita de competências outras, que não apenas o conhecimento da matéria. Isso mesmo, todo conhecimento é competência adquirida.

Quando a escola ensina equação de segundo grau, por exemplo, além do conceito teórico, ela deve dar ao aluno as fórmulas e as operações matemáticas. Ou seja, as competências que ele ainda não tem. O exercício da aritmética, como exemplo dado pelo professor, não deixa de ser uma competência, mas tem mais a ver com habilidade. Um aluno predisposto e curioso mata dois coelhos com uma paulada só. Pronto: logo vai pôr em prática outras habilidades e adquirir outras competências. 

Portanto, se algum dia você, por ventura, seja chamado de incompetente, primeiro avalie a situação antes de se sentir ofendido. Todos nós temos algum tipo de competência. Mas nenhum de nós tem todas as competências do mundo. Embora exista em cada um de nós algum tipo de habilidade (e quanto maiores as habilidades, mas competências adquirimos), a falta de competências importantes para determinado projeto pode não ser compatível com o excesso de habilidades.

O sujeito curioso predispõe-se a somar competências e o sujeito inquieto predispõe-se a realizar habilidade. Não fica apenas questionando para que servem certos conhecimentos ou se vão ser úteis para a sua vida. Não é função da escola dá mais do que competências. Se o menino estiver predisposto, a habilidade é presa fácil.

Considerações finais: competência e habilidade são duas senhoras distintas que, estimuladas pela predisposição, e na exata medida, nos tornam capazes de realizar nossos objetivos. É saída para os anseios e desafios da educação escolar.

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