Poesias
Imperfeição
Não convém ser completo por inteiro
Cheguei a esta conclusão!
Integro sim, mas pela metade
A totalidade não completada em nós
É espelho retrovisor
Não só para ver quem atrás vem
Mas para, entre os retardatários,
Distinguimos quem odeia ou quem ama quem
- Ou quem, por imodéstia ou egoísmo, tudo despreza
A totalidade incompleta de nós
É tocha na escuridão
Não para se passar despercebido
Como fazem os dissimulados
Mas para reconhecer nos olhos
Daqueles que enganam a traição
Assim também é na claridade do dia:
A totalidade ainda inacabada
Em nós, é acessório obrigatório
Em oposição à completude
Que nos embute à perfeição
- Cobiça de arrogantes imprevisíveis
Resistencia
Em tempos de hoje viver
até que dá
Não é de todo fácil, mas é
possível
Basta um pouco de egoísmo
Regado a “tô nem aí!” pra
vida
E viver simplesmente.
No entanto, nada comparado
a existir
Existir é dificílimo
Antes de tudo, é preciso ser
forte
Tanto de corpo como de
alma
Depois: um norte, retidão,
ousadia
E coragem aos montes
Pois existir é se sobrepor
a si mesmo
À própria obediência
Viver e existir são instigantes
de certo
Mas quem apenas vive sucumbe
ao primeiro desafio
Já que quem se propõe a
existir, insiste
E torna-se invulnerável à
morte
Em outras palavras:
Quem apenas vive até vence
Mas quem se propõe a
existir resiste
A todas as iminências
Quem apenas vive até pode durar
Agora, quem de fato existe,
perdura
Existir é batalhar contra
a desistência
Um eterno reexistir
Coisa que em hipótese
alguma combina
Com viver simplesmente
À VIDA
A Morte sabe que é invencível
E
por isso provoca a Vida
Chegando
perto de nós
Não
que não seja a hora
Afinal,
dizem, isso é ela quem decide
É
só pra nos ver de que lado estamos
Olha
bem em nossos olhos
Ausculta
nossos corações
Sente
nossas entranhas
Às
vezes, chega até nos abraçar
Nos
fazendo perder os sentidos
Para
auferir somente o valor que damos Àquela
Que
ainda está ali, atingida.
A
depender do que vê em nós
De
quem verdadeiramente somos
(Se
fortes ou embusteiros)
Nos
leva com Ela
Ou
nos deixa com a Vida.
Se
escolhemos ser forte, nos larga
E,
como se nos perdoar o fizesse, esbraveja
Sorrateiramente
agradecida:
-
Quer Esta aventureira, então toma!
E
nos empurra a Vida.
Nordestina
Um
dia, ao olhar para trás
Me
dou conta do quanto eu já tinha caminhado
Como
me descolei da vida!
Assustador!
Acho que me perdi foi é na sobrevivência
A
procura do pouco com que sonhava
Cheguei
a colher, é bem verdade, algumas flores,
Pintar
algumas cores, sentir algum odor
Mas
foram os espinhos e suas repulsas pontiagudas
Quem
mais tristemente me frustraram
E
de sangue colori o pudor
Criei
medo de certas amabilidades
Que
por mim passaram sem me ver
(Outras
que nem sequer me olharam)
Mas
foi na ingratidão em que mais me estrepei
Lágrimas
e suor derramados
E
a solidão por companhia
Vendo
agora daqui todo meu esforço penhorado
Nas
íngremes e vastas sinuosas curvas
Da
longa estrada por onde andei
É
ultrajante culpar a mim por não ter chegado
Porém,
mesmo doído mais que a dor,
Cansado,
o corpo roga-me a continuar
Desolador!
Ainda
bem, que durante a infortuna jornada
Não
me tenham roubado também os princípios
(Herança
de minha bem-fadada sina)
Assim,
da tênue esperança a que me agarro
Restou-me,
em minhas entranhas, sorrindo
A
nobre alma Nordestina
MANSIDÃO
Acho que é hora de ir embora
Procurar outro lugar
Menos rumoroso
Impróprio, talvez
Aqui, onde pouco vivo,
Está tomado de velhas tristezas
E não serei eu, com meus pesares,
A gota do transbordar
Um dia, porém, se tudo acalmar, eu volto.
Se a mim for permitido, é claro
Mas que, de volta, eu não precise de novo chorar
Agora, se eu nunca mais aqui regressar
Não se apressem a me jogar injúrias
Pensem apenas que foi porque morri
Nesse caso, se até lá algo me mudar
- a mudança é âncora da coragem -
Mandarei alguém avisar
Um renegado, talvez
- porque arcanjos são só para reis
Pedirei a ele somente
Que dentre todas as falácias
Diga de minha verdade:
- Foi manso, sim, mas não covarde.
Perdas
Do tempo eu não me lembro
Do lugar também não
(Tem vez que nem é bom lembrar)
Só sei que foi depois das vaidades
Assim que se avizinhava a paixão
A que horas também não sei
Assim com não sei do momento
Só sei que foi em volto a desventuras
Que logo depois os lamentos
Foi golpe rasteiro
Pois fui tomado dum açoite
Como para que de nada eu soubesse
E do pouco que em mim cabia
Levaram minhas razões
Me furtaram as alegrias
Torto, sem mais com que sonhar
E desprovido do bom que a vida dá
A saudade que vinha doía
A dor que vinha fluía
E tão logo a solidão batia
Ia com a tristeza chorar
Dizem que foi um descuido
Não me atrevo a duvidar, não!
Só sei que se tem algo a que não me apego
É fazer pouco da alma
E das perdas do coração
Pois, ainda que de qualquer jeito
Furtadas, levadas ou subtraídas
Ainda assim, são perdas...
Para todo o sempre perdidas
Realidade
Fui por muito, muito tempo
Um romântico inveterado
Desses que, dum copa d’água,
Ah! tempestade.
Mas, ao não mais devanear
Nas voltas que a vida dá,
Virei um realista deslumbrado
Continuo dando flores, é verdade,
Mas tenho zelo mesmo é pelo cuidado
Continuo admirando as estrelas, não nego,
Mas sou mais de enaltecer agora a
claridade
Sim, continuo a me perder em sonhos
- nos quais ainda algum passado se
revela
Mas, porque agora só enxergo o amor, de
fato
Reencontro-me é na realidade do corpo
dela
Coisa
perdida
Perder faz parte. É do jogo vida.
A gente está sempre perdendo alguma
coisa
No entanto, se é de vital importância a
coisa perdida
Para aqueles que nos amam, ou que de nós
precisam
É urgente que a encontremos
Porque é de vidas que estamos falando
Do contrário, de egoísmos nos morreremos
De tristezas nós mataremos
Seremos, então, a própria coisa sem vida
Para sempre coisificada
Agora, quando a coisa não tem a menor importância
Para aqueles que nos amam, ou que de nós
precisam
Ah! Aí daí tanto faz
Que a encontremos ou que continue... perdida
Sigamos! Sem dar ouvidos a coisas assim.
A Fortaleza
Talvez porque os caminhos sejam tortuosos demais
E as curvas impiedosamente pungentes,
dificilmente escapamos dos abates do acaso.
Afinal, não somos pedras, somos gentes.
Eis em mim um vivo exemplo: eu, que nunca me vi aprisionado
A recognições, pego-me agora tomado por um inédito e súbito
mau humor.
É que, do nada, despoetizaram meus versos, ora!
Desversificaram todo a minha criativa liturgia, estigmatizaram-me,
Ao zombarem do que de melhor em mim restou: a poesia.
Sem mais o que fazer, abraçada à fraqueza,
Que a pseudo gentileza futilmente desmoronou,
Minha pobre alma de
poeta agora chora reprimida.
E eu, igualmente entediado, as entranhas dilaceradas,
Como um cão vadio, pergunto então ao coração,
Companheiro das ilusões
e das noites solitariamente frias:
- Como proceder!
Ele responde de prontidão, todavia:
“Oh, porta voz dos combalidos,
com o fim de protegê-la de gostos duvidosos,
Tranque sua poesia a correntes!
E abra-a de novo somente, quando não mais houver
Um só Selo que a enode a dor, um só Ruído que a abale sem razão.
Ainda assim, no varejo, e só para mim, que posso ver sua beleza.
Pois, se a vida que sempre lhe obriga a ser forte,
Nunca a ser forte, de fato, lhe ensinou,
De nada adianta fingir-se Fortaleza”.
Fuga
Às vezes, é preciso fugir. E eu fugi.
Não de mim. Da vida que me escapava.
E passa por mim acreditar se não fora abençoado!
Estou, agora, de alma lavada. Senão levado pela beleza da calma,
pelo contraste das calvas e da farta vegetação daqui.
É como se estivesse me reconfigurado!
E por quanto mais suspiro, com outras tantas razões me deparo:
como a água em cachos, que em queda, se derramam nos rios, riachos.
A melodia dos pássaros, que em coro, me reanima o coração.
O aroma quente ou frio, que nas manhãs, ara toda minha emoção.
E os afagos dos homens e mulheres, que em abraços, me fazem mais humanizado.
Tudo isso me refez enfim.
É que aqui existe um ar que não sufoca
e uma brisa que em mim assopra
o novo segredo dos
sonhos e das noites bem dormidas.
É que aqui eu senti, sem medo, o que antes era só desejo:
o agridoce sabor de amar e ser
amado.
E de tanto assim celebrar, às vezes, chego a até duvidar do tempo que lá (não) vivi.
Só me quero aqui aquedar, a fim de poder da vida poder gozar o que ainda não sei!
A fuga me
trouxe aqui. Ainda bem.
Apaixonado
Já tem algumas dezenas de anos
Que o tempo das paixões passou de mim
Se dele não me aproveitei
Não me servi direito
Se, em algum momento,
Por mais tempestuoso que fosse,
Dele não me ensinaram a servir também
Já era!
Agora, estou no tempo das razões.
Por tanto, só me resta o amor
Perdoem-me a franqueza!
Mas o amor não se presta a devaneios
A tolices instantâneas
Nem a distinguir os odores dos cheiros
Ele é propositadamente lúcido
Ao contrário das paixões, daqueles tempos
O amor não nos toma de açoite
Assim como quem para se impor
Sem olhar os dotes, sem julgar a cor
Ele apenas deseja ser acolhido
E, sem alarde ou justificativas, acolhedor
Não pertence a nenhuma das estações
Tampouco a datas comemorativas
Não se esbalda nos encantos da infelicidade
Nem falseia-se em júbilos permanentes
Ele é assim, um pouco como eu sou:
Calmo, reservado; douto, atabalhoado
Mas uma fera se preciso for
Em outras palavras: a imperfeição em pessoa!
Eh, nesses tempos de razões, quem diria!
Eu me apaixonei pelo amor
Aos jovens
Sempre que aparecer à
nossa frente
Incertas furcações
Nos caminhos que a vida
nos oferece
Pare!
Não tenha pressa!
Nem corra!
Não passam de possíveis armadilhas
Que, de espreita, escondidas
estão
De olho no nosso destino
De repente: pah!
De detrás de um velho arbusto,
De um prédio em ruínas
Em qualquer travessa ou
esquinas
Fraudulentas
Lá estão elas!
A nos encher de dúvidas e vacilos
Então, pare!
Não tenha pressa!
Acione os ouvidos,
estimule o olfato, arregale a visão
Deguste semente de
pensamentos
E dê voz ao tato da
sensibilidade
Não corra!
Questione (se)!
- A onde eu quero chegar?
O túnel
Digamos
que não seja tão ruim,
Mas,
na vida, não
existem só mistérios
Fugaz
e imprecisa, há
também o incerto
É
como um túnel estreito e (in)finito
No
qual, de um jeito sempre fortuito,
Nele somos jogados
E,
quando lá estamos, no breu, trancados
Perda de tempo é pensar em recuar
Pois
a
entrada pela qual fomos lançados
Logo
se fecha, encobrindo
nossos rastros
Em escapulir pelos
lados, muito menos
Se
este for o único
lampejo de fuga
É que,
com suas
curvas vastas e sinuosas
No
túnel não se permite atalhos
Melhor,
então, será seguir em frente
Ainda
que cambaleante, tateando, errando
À
procura da luz que dizem haver...
Lá
no fim.
Aos moços
Eu
sou aquele homem
A
quem a vida pouco ensinou
Não
aprendi, por exemplo, a viver de vaidades
Nem
a lidar com falsas promessas
Ser
criterioso nas escolhas, também não
E
acreditei em tudo que parecia amizade
Que mancada! em vez de volúpia, de mentiras
Só
me ensinou a pureza da verdade
Daí
que não aprendi a ser cara de pau!
(O
que para sobreviver é preciso)
Faltou
a mim, quem sabe,
Que
a vida também tenha negado
Um
pouco de malandragem
De
sagacidade e mistérios
Não
de força, mas de coragem
Para
saber dizer sim e não, se necessário
Pois
bem, do pouco que a vida me ensinou
Ajudou-me
a me manter vivo por inteiro
Me
fazer de tolo aos intoleráveis
Reino da palavras
Rastro
Com tanta leveza
Indiferença
Atrevida
Sobrevivência
Perdi a crença e a confiança.
Linha de chegada
Acho que vou ficar por aqui
(E para adultos transitórios)
Sonhos
Perdas
Relevantar-se
Açoitado
Humilhação
Rascunho
Ignorado
Caricatura
Mas não te levaram porque te queriam
Sonhos
Tapeação
Que nem me iludo mais
Tapeação. Puro engodo, né não!
No tempo em que se vivia
Lágrima de saudade
Declaração
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