Poesias




Resistencia

Em tempos de hoje viver até que dá

Não é de todo fácil, mas é possível

Basta um pouco de egoísmo

Regado a “tô nem aí!” pra vida

 

E viver simplesmente.

 

No entanto, nada comparado a existir

Existir é dificílimo

 

Antes de tudo, é preciso ser forte

Tanto de corpo como de alma

Depois: um norte, retidão, ousadia

E coragem aos montes

 

Pois existir é se sobrepor a si mesmo

À própria obediência

 

Viver e existir são instigantes de certo

Mas quem apenas vive sucumbe ao primeiro desafio

Já que quem se propõe a existir, insiste

E torna-se invulnerável à morte

 

Em outras palavras:

Quem apenas vive até vence

Mas quem se propõe a existir resiste

A todas as iminências

 

Quem apenas vive até pode durar

Agora, quem de fato existe, perdura

 

Existir é batalhar contra a desistência

Um eterno reexistir

Coisa que em hipótese alguma combina

Com viver simplesmente 



À VIDA 

A Morte sabe que é invencível

E por isso provoca a Vida

Chegando perto de nós

 

Não que não seja a hora

Afinal, dizem, isso é ela quem decide

É só pra nos ver de que lado estamos

 

Olha bem em nossos olhos

Ausculta nossos corações

Sente nossas entranhas

Às vezes, chega até nos abraçar

Nos fazendo perder os sentidos

Para auferir somente o valor que damos Àquela

Que ainda está ali, atingida.

 

A depender do que vê em nós

De quem verdadeiramente somos

(Se fortes ou embusteiros)

Nos leva com Ela

Ou nos deixa com a Vida.

 

Se escolhemos ser forte, nos larga

E, como se nos perdoar o fizesse, esbraveja

Sorrateiramente agradecida:

- Quer Esta aventureira, então toma!

E nos empurra a Vida.

 

Nordestina

Um dia, ao olhar para trás

Me dou conta do quanto eu já tinha caminhado

Como me descolei da vida!

 Assustador!

 Acho que me perdi foi é na sobrevivência

A procura do pouco com que sonhava

 

Cheguei a colher, é bem verdade, algumas flores,

Pintar algumas cores, sentir algum odor

Mas foram os espinhos e suas repulsas pontiagudas

Quem mais tristemente me frustraram

 

E de sangue colori o pudor

 

Criei medo de certas amabilidades

Que por mim passaram sem me ver

(Outras que nem sequer me olharam)

Mas foi na ingratidão em que mais me estrepei

 

Lágrimas e suor derramados

E a solidão por companhia

 

Vendo agora daqui todo meu esforço penhorado

Nas íngremes e vastas sinuosas curvas

Da longa estrada por onde andei

É ultrajante culpar a mim por não ter chegado

 

Porém, mesmo doído mais que a dor,

Cansado, o corpo roga-me a continuar

 

Desolador!

 

Ainda bem, que durante a infortuna jornada

Não me tenham roubado também os princípios

(Herança de minha bem-fadada sina)

 

Assim, da tênue esperança a que me agarro

Restou-me, em minhas entranhas, sorrindo

A nobre alma Nordestina

 

MANSIDÃO

Acho que é hora de ir embora

Procurar outro lugar

Menos rumoroso

Impróprio, talvez

Aqui, onde pouco vivo,

Está tomado de velhas tristezas

E não serei eu, com meus pesares,

A gota do transbordar

Um dia, porém, se tudo acalmar, eu volto.

Se a mim for permitido, é claro

Mas que, de volta, eu não precise de novo chorar

Agora, se eu nunca mais aqui regressar

Não se apressem a me jogar injúrias

Pensem apenas que foi porque morri

Nesse caso, se até lá algo me mudar

- a mudança é âncora da coragem -

Mandarei alguém avisar

Um renegado, talvez

- porque arcanjos são só para reis

Pedirei a ele somente

Que dentre todas as falácias

Diga de minha verdade:

- Foi manso, sim, mas não covarde.


Perdas

Do tempo eu não me lembro

Do lugar também não

(Tem vez que nem é bom lembrar)

Só sei que foi depois das vaidades

Assim que se avizinhava a paixão

A que horas também não sei

Assim com não sei do momento

Só sei que foi em volto a desventuras

Que logo depois os lamentos

Foi golpe rasteiro

Pois fui tomado dum açoite

Como para que de nada eu soubesse

E do pouco que em mim cabia

Levaram minhas razões

Me furtaram as alegrias

Torto, sem mais com que sonhar

E desprovido do bom que a vida dá

A saudade que vinha doía

A dor que vinha fluía

E tão logo a solidão batia

Ia com a tristeza chorar

Dizem que foi um descuido

Não me atrevo a duvidar, não!

Só sei que se tem algo a que não me apego

É fazer pouco da alma

E das perdas do coração

Pois, ainda que de qualquer jeito

Furtadas, levadas ou subtraídas

Ainda assim, são perdas...

Para todo o sempre perdidas



Realidade

Fui por muito, muito tempo

Um romântico inveterado

Desses que, dum copa d’água,

Ah! tempestade.

 

Mas, ao não mais devanear

Nas voltas que a vida dá,

Virei um realista deslumbrado

 

Continuo dando flores, é verdade,

Mas tenho zelo mesmo é pelo cuidado

 

Continuo admirando as estrelas, não nego,

Mas sou mais de enaltecer agora a claridade

 

Sim, continuo a me perder em sonhos

- nos quais ainda algum passado se revela

Mas, porque agora só enxergo o amor, de fato

Reencontro-me é na realidade do corpo dela


Coisa perdida

 

Perder faz parte. É do jogo vida.

A gente está sempre perdendo alguma coisa

 

No entanto, se é de vital importância a coisa perdida

Para aqueles que nos amam, ou que de nós precisam

É urgente que a encontremos

Porque é de vidas que estamos falando

 

Do contrário, de egoísmos nos morreremos

De tristezas nós mataremos

Seremos, então, a própria coisa sem vida

Para sempre coisificada

 

Agora, quando a coisa não tem a menor importância

Para aqueles que nos amam, ou que de nós precisam

Ah! Aí daí tanto faz

Que a encontremos ou que continue... perdida


Sigamos! Sem dar  ouvidos a coisas assim.

 


A Fortaleza

 

Talvez porque os caminhos sejam tortuosos demais 

E as curvas impiedosamente pungentes, 

dificilmente escapamos dos abates do acaso. 

Afinal, não somos pedras, somos gentes.

Eis em mim um vivo exemplo: eu, que nunca me vi aprisionado 

A recognições, pego-me agora tomado por um inédito e súbito mau humor.

É que, do nada, despoetizaram meus versos, ora! 

Desversificaram todo a minha criativa liturgia, estigmatizaram-me, 

Ao zombarem do que de melhor em mim restou: a poesia.

Sem mais o que fazer, abraçada à fraqueza, 

Que a pseudo gentileza futilmente desmoronou, 

Minha pobre alma de poeta agora chora reprimida.

E eu, igualmente entediado, as entranhas dilaceradas, 

Como um cão vadio, pergunto então ao coração, 

Companheiro das ilusões e das noites solitariamente frias:

- Como proceder!

Ele responde de prontidão, todavia:

“Oh, porta voz dos combalidos, 

com o fim de protegê-la de gostos duvidosos, 

Tranque sua poesia a correntes! 

E abra-a de novo somente, quando não mais houver 

Um só Selo que a enode a dor, um só Ruído que a abale sem razão. 

Ainda assim, no varejo, e só para mim, que posso ver sua beleza. 

Pois, se a vida que sempre lhe obriga a ser forte, 

Nunca a ser forte, de fato, lhe ensinou, 

De nada adianta fingir-se Fortaleza”.

 


Fuga

Às vezes, é preciso fugir. E eu fugi. 

Não de mim. Da vida que me escapava. 

E passa por mim acreditar se não fora abençoado!  

Estou, agora, de alma lavada. Senão levado pela beleza da calma, 

pelo contraste das calvas e da farta vegetação daqui.

É como se estivesse me reconfigurado! 

E por quanto mais suspiro, com outras tantas razões me deparo: 

como a água em cachos, que em queda, se derramam nos rios, riachos. 

A melodia dos pássaros, que em coro, me reanima o coração. 

O aroma quente ou frio, que nas manhãs, ara toda minha emoção. 

E os afagos dos homens e mulheres, que em abraços, me fazem mais humanizado. 

Tudo isso me refez enfim.

É que aqui existe um ar que não sufoca 

e uma brisa que em mim assopra 

o novo segredo dos sonhos e das noites bem dormidas.

É que aqui eu senti, sem medo, o que antes era só desejo: 

o agridoce sabor de amar e ser amado.

E de tanto assim celebrar, às vezes, chego a até duvidar do tempo que lá (não) vivi. 

Só me quero aqui aquedar, a fim de poder da vida poder gozar o que ainda não sei! 

A fuga me trouxe aqui. Ainda bem.



Apaixonado

 

Já tem algumas dezenas de anos

Que o tempo das paixões passou de mim

Se dele não me aproveitei

Não me servi direito

Se, em algum momento,

Por mais tempestuoso que fosse,

Dele não me ensinaram a servir também

Já era!

 

Agora, estou no tempo das razões.

Por tanto, só me resta o amor


Perdoem-me a franqueza!

Mas o amor não se presta a devaneios

A tolices instantâneas

Nem a distinguir os odores dos cheiros

Ele é propositadamente lúcido

 

Ao contrário das paixões, daqueles tempos

O amor não nos toma de açoite

Assim como quem para se impor

Sem olhar os dotes, sem julgar a cor

Ele apenas deseja ser acolhido

E, sem alarde ou justificativas, acolhedor


Não pertence a nenhuma das estações

Tampouco a datas comemorativas

Não se esbalda nos encantos da infelicidade

Nem falseia-se em júbilos permanentes

Ele é assim, um pouco como eu sou:

Calmo, reservado; douto, atabalhoado

Mas uma fera se preciso for

Em outras palavras: a imperfeição em pessoa!

 

Eh, nesses tempos de razões, quem diria!

Eu me apaixonei pelo amor 


Aos jovens

 

Sempre que aparecer à nossa frente

Incertas furcações

Nos caminhos que a vida nos oferece

Pare!

Não tenha pressa!

Nem corra!

Não passam de possíveis armadilhas

Que, de espreita, escondidas estão

De olho no nosso destino

De repente: pah!

De detrás de um velho arbusto,

De um prédio em ruínas

Em qualquer travessa ou esquinas

Fraudulentas

Lá estão elas!

A nos encher de dúvidas e vacilos

Então, pare!

Não tenha pressa!

Acione os ouvidos, estimule o olfato, arregale a visão

Deguste semente de pensamentos

E dê voz ao tato da sensibilidade

Não corra!

Questione (se)!

- A onde eu quero chegar?



O túnel

Digamos que não seja tão ruim,

Mas, na vida, não existem só mistérios

Fugaz e imprecisa, há também o incerto

 

É como um túnel estreito e (in)finito

No qual, de um jeito sempre fortuito,

Nele somos jogados

 

E, quando lá estamos, no breu, trancados

Perda de tempo é pensar em recuar

Pois a entrada pela qual fomos lançados

Logo se fecha, encobrindo nossos rastros

 

Em escapulir pelos lados, muito menos

Se este for o único lampejo de fuga

É que, com suas curvas vastas e sinuosas

No túnel não se permite atalhos

 

Melhor, então, será seguir em frente

Ainda que cambaleante, tateando, errando

À procura da luz que dizem haver...

Lá no fim.




Aos moços

 

Eu sou aquele homem

A quem a vida pouco ensinou

Não aprendi, por exemplo, a viver de vaidades

Nem a lidar com falsas promessas

Ser criterioso nas escolhas, também não

E acreditei em tudo que parecia amizade

Que mancada! em vez de volúpia, de mentiras

Só me ensinou a pureza da verdade

Daí que não aprendi a ser cara de pau!

(O que para sobreviver é preciso)

Faltou a mim, quem sabe,

Que a vida também tenha negado

Um pouco de malandragem

De sagacidade e mistérios

Não de força, mas de coragem

Para saber dizer sim e não, se necessário

Pois bem, do pouco que a vida me ensinou

Ajudou-me a me manter vivo por inteiro

Me fazer de tolo aos intoleráveis



A coesão

A agulha do artesão entrelaça as linhas
Em outras linhas iguais que em outras,
Em harmonia,  apalavradas, pois, serão
É assim que se vai tecendo o tecido que
Ainda tênue e disforme constrói a conexão

Porém, em cada alinhavada assim forjada
Pela agulha da coesão, não pode haver
Embaraço, nem lapso do atento artesão
Pois assim, as linhas do inacabado tecido
Entre todas, des-apalavradas estarão

Logo, a coerência das apalavradas linhas ,
Para assim o ser (tecido), requer o bom proceder
Do entrelaço de linhas no manejo do artesão
Só assim, do todo tecido que se quer acabado,
O texto, se dará pela nobre agulha da coesão


Reino da palavras

Era um Reino das Palavras
Amor, embora maltratado pelo tempo
Era ainda um soberano
Todas as outras dele dependiam ou a ele serviam
Um dia, veio um impostor, Ingratidão,
E disse a Egoísmo, um de seus soldados:
- Amor está ultrapassado, não reina mais. Prenda-o!
Ouvindo aquilo, Amizade se pôs à frente:
-  Não, não há reino sem Amor!
Ingratidão ordenou a outro soldado, Traição:
- Prenda esta Amizade! Insolente!
Ao que Mansidão calmamente refutou:
- Impossível um reino sem Amor e Amizade!
Ingratidão ironizou e gritou para Má Fé:
- Esta é uma pobre descalvada. Destrua-a!
Diante disso, Respeito também argumentou:
- O que será de Amor sem suas escudeiras?
Ingratidão então debochou bem alto:
- Olha só quem fala! Por onde andas, velho decrépito!
E ordenou que Respeito também fosse preso.
Restava a Humanidade alguma saída
Mas esta estava tão fragilizada
Num dos cantos do reino das palavras
Que Ingratidão nem se deu por intrépido
Nem precisava, pois Humanidade, sem Amor,
Sem Amizade, sem Mansidão, sem Respeito
Era, de todas, a mais derrotada.



Rastro

Por onde tenho passado
Ultimamente
Resolvi deixar (um pouco) o pior de mim:
Uma mágoa ali
Uma rancor acolá
Adiante, uma dor
Mais na frente, os dissabores

Rastro de tristes incômodos!

Tenho me sentido mais leve
É verdade!
Voltei até a sorrir
Coisa de que quase tinha me esquecido

E percebi que viver é uma intensa necessidade

Pena que, os que ainda vivem
Presos também em si
Não enxergam a outra parte que carrego
Com tanta leveza
Perdendo, talvez, o melhor de mim:

A compaixão
O humanismo


Só veem o rastro deixado


Indiferença

Viver esse tempo todo
Foi para mim um engodo
Bem que eu não queria ter nascido
Ah, se dependesse de mim!

Um dia, porém nasci
Quase desanimado, é verdade
Mas nasci

Nascido, não me restou escolhas
Tive que sobreviver
Sobrevivi as dores, os desamores,
Os horrores do ser inacabado
Num mundo de pouco caso
Desumanizado

(O lado ingrato, a antivida)

Mas significativamente falando
Do lado bom da vida, eu diria
(Que se existe não o sei)
Não vivi foi é nada
Nada usufrui

A vida, entendo, nunca foi minha por direito!
A ela sempre me submeti
A fim de se fazer presente.

Caiu-me a ficha.

O que mais fui todo esse tempo
Em razão de também não ter morrido
(Sabe lá com que finalidade)
Foi um antiviver impreciso, torto
Intimamente esquecido à ilusão
De um dia poder ao menos sonhar
Com aquilo que eu gostaria de ter sido:

Alguém.

Mas a vida, meu caro, nunca foi minha de fato!
A ela apenas me consumi
A fim de se fazer, somente.

Fui, tão somente.
Desmerecidamente, talvez.

Agora, faz é tempo que nem mais me vejo
Nem mesmo sei por onde ando
Se tenho sido notado
Se ainda sou amigo
Se ainda sou lembrado
(Porque não creio em gratidão)

Procuro, desde então, é não sentir a minha falta
Nem ter saudade do que eu era
De como eu era
Pois aprendi que assim dói menos.

Ah, e como dói a dor Indiferença!

Ouvi dizer recentemente
Que me viram por aí
Todo metido em exortação
(Logo eu!)

Se fazendo agora de gente. 


Atrevida

Se me perguntarem
- Vida ou  morte?

Eu direi:
- Vida

A morte é para sempre
E nem tem volta
Se morreu, já era!

Além de fortuita
E desconhecida

A vida é efêmera
E somente a ida
Quem viveu, já era!

Além de necessária
E atrevida

Imprecisa,
A vida logo passa
Em alegorias

Previsível,
A morte é eterna
Sem graça

É por isso que, ainda assim
(não de bem com o mundo),
Eu prefiro a vida


Sobrevivência

Sempre dei mais valor às asas que aos galhos
Então, um dia, eu comecei a voar.
Não só acreditei, como confie nas minhas asas
Como me ensinara uma vez o otimismo.
Pensando em chegar quem sabe 
Um pouco perto da liberdade,
Sonho de quem é humano e o meu também,
Me deixei levar pelo plano alto da convicção
Mas quando ainda nem avistara a esperança
Senti que algo me atingira com mais força ainda
Bem no lugar onde se projetam os sonhos
Foi uma pedrada e tanto
Arremessada, eu vi, bem lá de baixo
Daquelas que destroem tanto o coração
Quanto a razão, resquício da sobrevivência.
E o que era um voo talvez à plenitude
Virou desespero em uma não queda livre
Minhas asas foram também danificadas
E nelas eu já não podia mais me agarrar
O tempo, o espaço eram curtos
Perdi a crença e a confiança.
Ao cair de volta ao chão não havia mais galhos.



Linha de chegada

Podem ir vocês!
Acho que vou ficar por aqui
Já caminhei foi é muito
Muito mesmo...
Além do que um dia imaginei andar

Cheguei até a pensar
Que nem caminhos havia
Porque era de um vazio intenso
E de uma desesperança
Incompreendida
Fé eu também nem tinha
Já nascera sem
E assim aqui cheguei

Vão vocês, agora!
Pois a estrada é longa demais
Para jovens imprevisíveis
(E para adultos transitórios)
Quase infindada
Não mais para mim
Que já no fim da linha

Vão! Vão em frente!
Escolham o melhor caminho
(Hoje isso é possível)
E vão, vão sem pensar na volta!
Mas, de vez em quando
Nem que seja de soslaio
(Se possível)
Deem uma olhada para trás
Para ver como tudo muda
Fica ainda mais longe
Pequeno, distante
Quase inalcançável

Mas não deixe de olhar
Ajuda não perder o rumo
Pra não ficar parecendo
Que não andamos foi é nada.

Vão, vão agora!
Chega de perder tempo
(Que este hoje é escasso)
Vão! Espero vocês aqui

Na minha linha de chegada.


Sonhos

De como eu vim
Para o teu mundo
Não me era permitido sonhar

Porque ali do lado
Eis que haviam sonhos piores
Bem mais tristes que os meus
Mais urgentes

E eu tinha que admitir
Que insistir nos sonhos
Me fazia apegado demais em mim

Daí eu dava um tempo
- Meu sonho podia esperar

Mas quando sonhava
Comparados aos teus
Meus sonhos eram quase nada
Quinquilharias apenas
Difíceis de juntar

Sonhar um sonho bom
Nunca foi direito meu, era privilégio

Agora, aqui, não
Tu sonhas como a nobreza
Com os trâmites da realeza
Sendo tu a própria rainha
E toda sua inconstância

Por isso, eu compreendo
(embora resignado)
Que seja difícil para ti
Aceitar a minha condição
De não sonhador

Perdoe-me, então
Pois não quero que penses
Que eu seja apenas um estorvo
Um caso perdido

Longe disso
Eu quero poder é viver
Não tão somente existir
Dos subsídios que me sobram
Em teus sonhos de galhardia

Por maior que seja
O meu amor


Perdas

Venha cá, meu camarada, venha!
Agora que a luta ainda nem acabou
Vamos fazer de conta, de conta mesmo
Que tudo não passou de humanas intrigas

Vamos, vem sentar bem aqui comigo
Neste nosso íntimo e cômodo lugar
Enquanto o tempo em si permanece
Passando para a gente poder ficar

Vamos falar do nosso passado
Daquele que ainda não foi de vez
Das coisas que ainda dão saudade
Porque saudade não se tem por aí
Assim, para fazer a gente reviver
O regresso fortuito da esperança
E, quem sabe, o que foi bom poder voltar

Venha cá, meu camarada, venha!
Agora que só nos resta da vida esperar
Vamos retomar as boas conversas
Como aquelas dos tempos de paz

Olha para o céu! Está ainda todinho igual
E se ainda iguais também estamos
Não há mais porque temer, chorar
Importa agora o que restou de nós

Vamos viver agora de acreditar
Que o presente é uma breve ilusão
Não convém, portanto, remoer as dores
Das velhas e comoventes paixões

Venha cá, deixe-me te falar aos ouvidos!
É preciso que façamos de conta
Que não se pode enxergar na escuridão

Venha, camarada, venha, sem desfeita!
Me dê logo aqui aquele velho abraço
Esqueça as perdas e deixe o futuro para depois.


Relevantar-se

Vendo você daqui de onde estou a lamentar
O maior dos açoites que levamos
E também o tudo que nos levaram
Fico deveras triste ao ver você assim
- Tão sem rumo, tão insólita e desacreditada
Eu voltei para aquilo que eu era antes, normal
Mas você, veja quanto mal te fizeram!

Porque és minha esperança, choro por ti
Gostaria de sentir de novo aquele grito de liberdade
Mas, quem me dera, se sequer consegues
Abatida como estás, ouvir meu triste lamento

Não, meu lamento não é maior que o seu
Certamente, este beira a quase desespero
Às margens de uma quase loucura, vê-se
A questão é que não me sinto um qualquer,
Minha esperança, confio em te desde púbere
Mesmo que você tenha sido um tanto esnobe
Em anos idos de vaidade, de quase maldade

Nunca em outro solo, em outro colo quis eu amar
Mesmo em farrapos, como agora estás,
Brutalmente linchada, a esmo, golpeada,
Reluto em aceitar que toda luta seja inglória
Que toda espera dê em nada, que tudo de nada valha

Reage, vai! Volta aqui para acabarmos o começo!
Traga contigo apenas um desejo, que igual nunca tive
- o conforto do teus braços esplêndidos
Para neles, de forma justa e serena, voltar a sonhar

Ah, minha esperança, nos roubaram em reconstrução
Nos tomaram de lampejo a paz e a decência
E agora nos ameaçam com a insensatez descabida
Tempos incertos, sombrios, sonhos despedaçados
Mas você tem a mim, acredite, este pobre bem acabado
Que não abre mão de toda sua legitimidade

Quero ao teu lado lutar contra esta alienante insanidade
Que te botou, ainda linda ainda, tão irreconhecível assim

Reage, vai, minha única esperança! Se relevante!
Por que tanto receio ainda este meu querer te faz,
Se é amor de raiz, amor da terra boa? Reage, vai!
Não se esqueça de mim, não chore, não desapareça,
Deixe que o seu coração gentil, por mim, por nós,
Ao mundo se queixe de nossas novas angústias impostas

E se bem me queres ainda, não tenha medo, nem se engane
Oh, minha triste amada e infeliz esperança,
Relevante-se e me abrace, me queira e me beije
Enquanto, ao menos eu, estou de verdade a te pedir, ou
Se ainda confias em mim, me ame ou me deixe... aqui! 


Lesa-razão

Rejeito a natureza como amparo da solidão
Não quero incorrer no risco de idealizar as coisas
Isso é para quem se projeta em sonhos
Para quem foge da realidade indigesta
A fim de não querer ser como ela diz
Para mim, uma flor será sempre uma flor
Um rio nunca mudará seu curso
Um cachorro será sempre ele mesmo
E o homem envencilhado na ingratidão
Em seu tênue arcabouço da lesa-razão
Jamais se permitirá deixar de ser imperfeito
A mim, me basta um quarto escuro,
Uma cama, um silêncio noturno, somente
Para que assim aflorem os mais vastos pensamentos
Pois é pensando que a vida pode ser compreendida
Porque tudo o que os olhos não enxergam
- posto que para isso não haja a luz -
É o coração quem mais sente, é no corpo que tudo dói
É a vida que se expõe ao perigo, depois.


Açoitado

Todos os dias ele vinha comer
Esperançoso, o que sobrou da ração dos homens
Deixada em sacos plásticos
Ali na rua onde eu morava

Ele era apenas um gato
Um gato preto de rua
Um belo gato preto de rua
Mas, com seu andar ancho de gato,
Igual a todos os gatos em tudo

E como todos os gatos, certamente
Não buscasse apenas os restos
- Queria também uns poucos afagos
Que desde gatinho não tinha

Um dia meninos malcriados
Em caminho de volta da escola
(eu disse, de volta da escola)
Onde nada aprenderam sobre ser feliz
Açoitaram-no com um balde de água fria

Nunca mais vi aquele gato preto na rua

Acho que ele fez como eu fiz um dia
(e como qualquer pessoa açoitada faria):
Também nunca mais voltei para revirar
O que sobrou da ração de muitas pessoas



Humilhação

Eu não pedi pra nascer
Mas me fizeram
Me obrigaram

Eu não pedi pra crescer
Mas me levaram
Me deixaram

Eu não pedi pra viver
Mas me disseram
Me expuseram

Eu não pedi pra ser pobre
Mas me sujeitaram
Me aviltaram

Eu não pedi pra furtar
Mas me forçaram
Me tentaram

Eu não pedi pra morrer
Mas me acusaram
Me mataram

Eu só pedi pra ser gente
Mas não deixaram
Me humilharam




Rascunho

Não é a palavra quem tem poder
É o uso dela que tem
E quem faz o uso também

Uma palavra no canto do papel
Riscada no chão
Pintada em tela que seja
Sozinha
De nada vale
Não faz sentido
Nada significa
Pois dizê-la assim nada refere

Amizade, por exemplo
Só vale se for dita
Ao lado de carinho,
Articulada com ternura,
Sublinhada por amor
E reiterada de atenção

Se não for assim
Não será amizade verdadeira
Será apenas rascunho em vão




Ignorado

Vivendo só e as escondidas
Pois é assim que ando agora
Dissimulando a minha dor
Vi você sorrindo de mim

Era flagrante o seu bem-estar
Curtindo todo seu despudor
E toda a minha desventura

Do teu lado, igualmente felizes
Amigos e amigas em comum
Que antes nos faziam louvor
Sorriam também de mim

E atado ao seu corpo solteiro
Num explícito e íntimo fulgor
A causa da minha amargura

- Essa tua agora independência
Essa tua nova compostura
De mim assim me ignorar

Sofro e choro, triste e esquecido
Em verdade, porque tanto quis
Fazer de você meu único teor
Enquanto ainda sorria para mim

Só me consola ao menos entender
Que foi tomado de muito amor
Que lhe dei um pouco de mim


Caricatura

Quando eu era ainda criança
Eu só pensava em voar e voar
Para o bem alto do possível
Mas eu só tinha um quintal
De onde de lá via as nuvens
Debaixo de um pé de pau
Onde ainda podia brincar

Quando menino-homem
Eu só sonhava em vagar e vagar
Para bem longe no mundo
Mas nem tinha sequer um lar
Que tivesse uma janela
Da qual pudesse ver o céu
Donde ainda pudesse sonhar

Agora que cheguei onde estou
Eu só queria mesmo era me levar
Para bem longe de mim
Ah, mas eu só tenho a mim
Este velho caricato a zelar
Um pouco indisciplinado
Mas com quem eu posso contar




Esquecido

Depois de tanto te desejar
Depois de tanto te esperar
Depois de tanto te defender
Levaram você de mim

E eu fiquei foi só.
Completamente só.

Mas não te levaram porque te queriam
Nem porque te amavam demais
Quiseram me ver era triste, eu sei
Triste mesmo, feito um incocente

Te levaram de mim para se vingar
De todo bem que você me fazia
Você era toda minha vida
E toda minha alegria

E toda minha paixão
Todinha minha liberdade
Que levaram de mim também

E eu fiquei foi só.
Tristemente só.

Depois de tanto te ter
Depois de tanto te proteger
Depois de tanto te amar demais
Levaram você de mim

E porque não tenho mais você
Porque não sinto mais amor
Porque não sirvo mais a ninguém...
Eu fiquei só

Esquecidamente só.


Sonhos

Quando nasce a gente não tem sonhos
Nos iludimos é depois que crescemos
Daí temos que o sonho é resistência
E que viver empata que nos limitemos

Quando cresce a gente só tem é sonhos
Nos iludimos por aquilo que perdemos
Daí temos que o real da sobrevivência
Exige muito da gente é que lutemos

Porque a vida é duramente afetada
Pela carência de nortes que não temos
E pela realidade carregada de pendências

Porque em sendo assim tão fragmentada
A vida nos priva das coisas que mais queremos
Nos levando à morte pelas ausências

Tapeação

É muito difícil estar feliz
Ser, então, puro devaneio da alma
Tá aí uma coisa da qual já desisti
Que nem me iludo mais
- E faz é tempo, viu!

De vez em quando um sorriso
Mas, apenas para aliviar a tensão
Para não se parecer um chato assaz
Porque o mundo é avesso a quem chora
Quando de tristeza, então!

Por isso, é preciso se equilibrar
No tênue bambo da dissimulação
E disfarçar a dor com finura
Sem esboçar um lamento sequer

Tapeação. Puro engodo, né não!

Mas, enfim, é assim que se vive a vida
Sendo expressamente proibido vir a ser
Mesmo quando se quer de verdade.


Exata medida

Havia um tempo em que
Tudo era bem ajustado
Ameno, sem virtudes, nem pecados

Que era bom viver demais
Pois era de paz que se fazia
Aqueles tempos de fantasia

O sol, em sua nobre profusão
Era o mesmo de todo o dia
Aquecia, mas não queimava

Também a chuva era assim igual
Sem torrências nem agonia
Caia, mas não acharcava

E o vento, que frescor de simpatia
Parece que em nada pensava
Rugia, mas não gritava

Nem para mais, nem para menos
Era assim na exata medida
No tempo em que se vivia




Lágrima de saudade

Enquanto o céu de toda a cidade
Se alegrava em pirotecnias
Uma lágrima leve e triste
Disfarçadamente escorria
No rosto da pequena mulher

Enquanto a gente se esperançava
Com suas falsas alegorias
A lágrima era de verdade
De uma dor intensa e discreta
No rosto da pequena mulher

Enquanto, em forma de ilusão
Em abraços, afagos se renasciam
A lágrima era de não mais ter
Aquele de quem mais se queria
No rosto da pequena mulher

Não era uma lágrima qualquer
Eu garanto, vinha lá do coração
Tanto que não se esbaldava
Para não se fazer aparecer
No rosto da pequena mulher

Enquanto a gente se esperançava
Eu vi, ela caladamente brotava
Dos olhos de quem amou demais

Sim, era uma lágrima de saudade
No rosto da linda pequena mulher
Que chorava a morte de meu pai




31/12/2017


Declaração

Você é tão linda
Tão cheia de graça
Que quando te vejo
Sinto assim um desejo
De querer te tocar
Mas isso somente é pouco
Porque sou mesmo louco
Por esse teu jeito
Gatinha manhosa
Macia e cheirosa
Quero te beijar
Você é tão esperta
Que teu corpo me leva
Pra onde você me quer
E se for assim espero
Que de amor me coma
De mim seja a Dona
Minha única Dona, 
Todinha Mulher



Despertar

A poesia que se espera de mim ainda existe
Está adormecida apenas
A espera de ser livre, bela
No entanto, se a isto ainda resiste,
Não foi só por falta de mim,
Mas de quem a libertar também fizesse
E por isso, como por encanto, fera
Libertar-se-á um dia, eu sei
Basta que em mim, para sempre,
Quem a quiser desperte... poema.

 Acabou

Agora chega
Sinto realmente que acabou
Não porque a quem eu queria me deixasse
(Pouco me importa agora a sua ausência)
Mas porque aqui dentro de mim,
Bem lá no fundo de mim,
Nas primeiras horas de um outro novo dia,
O coração não se queixou
Fez-se de infeliz, contente; e de solitário, ausente
Por isso, sinto que acabou de verdade
Não existe mais dois-em-um
Agora são só os dois
Cada um a seguir no escuro
O desejo insólito de cada um
A derreter-se em queimaduras
De amarguras frívolas
Sinto que acabou com o tempo
Com as águas rebentas da ingratidão
Na profusão incerta do desamor
É, acabou sim, acabou também tudo em mim


Tempo

Agora que Tu, oh Tempo, já passaste,
(Lá se vão contigo meus anos)
Tomarei três providências arbitrárias
Antes que tarde me sejas temporal:
Uma, como dum açoite,
Que me faça pensar, oh Tempo, que feliz eu era
Outra, diante da saudade que a mim espera,
Cuida em fazer de quem do meu amor fugiu
Uma lembrança somente
Por fim, se ainda assim a tristeza me atormente
Que em profunda desordem
Leves de mim todas as coisas doídas do coração
Serei escombros da razão para o todo sempre
Te prometo, oh Tempo, a ti
E a tua crueldade


Devagar 

Caso alguém um dia me deseje,
Como quem querendo me dar amor,
Deseje-me bem devagarinho
Apresse o passo, se quiser,
Mas com cuidado, como quem vem de mansinho
E, não se esqueça, é extremamente importante,
Traga consigo um resto de paz para mim
Enfim, quem me quiser de verdade,
Tem de ser assim, bem de pouquinho
De-se-ja-do!
Que a vida, eu creio, é uma só
Mas o querer, pior ainda

Incerteza
O que é a morte senão o resto da vida
E morrer senão o que nos resta
E o tempo senão partes da vida
As chances que ela nos dá e nos tira
Assim como o sofrimento
As tristezas
Os amores
As surpresas
E as dores
Aos quais se apega para ser vivida

Morrem mais os tristes
Que veem nos sonhos a saída
E vivem menos os prudentes
Que ignoram a felicidade
Tristes e infelizes somos todos
Pois temos a eterna não certeza
Do que é a vida, senão a morte que não ainda
E viver, senão tudo o que nos resta

Vacilo

Calma, calma improba gente!
A esperança não nos abandonou
Ela só foi ali e volta já
Quis apenas entender a praga da ilusão
Pois não é incompreensível
Que ao termos reganho tão pouco
Do que era nosso por direito
Já pensamos que foi muito?
Tanto é que alguns dos entre nós
Cooptados pela indiferença
Inocentemente se assoberbaram
Foram fracos e imprudentes
E se ausentaram dos oprimidos

Mas calma, e luta sem parcimônia!
Que tudo voltará bravamente
Como era ainda há pouco
Quando tudo era pungente
A esperança nunca se vai de vez
Nem nunca morre
A gente é que, quase sempre
Tomado pela ingratidão,
Vacila e estraga tudo.


Infelicidade

Hoje eu resolvi
Em definitivo
Vou desistir de ser feliz
- nunca fui sequer
A felicidade como virtude
Não é para todos
Não é para mim

Sou insignificante
Insuficiente
Irrelevante
E excessivamente ridículo
Ao lidar com a vida
E suas incongruências

A felicidade da alma
Que fortifica o corpo
Também não me cabe
É para os seletos
Para quem vive sorrindo
Para quem não teme ser
Sabe ler a receita
E a faz com requintes
De generosidade

Que inveja!

Se eu fosse um sábio
Talvez ainda soubesse
Que a felicidade não é meio, é fim
Mas sou um ignorante
Um relés sem eira
Um trivial indisciplinado

Até os fins dos meus dias
Viverei de sobressaltos
E também dos arroubos                                                                               
Da não infelicidade

Ousadia

Engana-se o homem pobre
Que pensa que a vida é como a lua
Bela e incólume
Imagine o homem pobre fêmea
O homem pobre fêmea, negro, torto,
O pobre fêmea, negro, torto, ateísta,
O homoafetuoso
Imagine, imagine...
Tem o direito de ousar ser, sim
E será, mas nem tudo o que ousar
Ouse ser altruísta e será
Ser honesto e será
Bondoso e será
Compreensivo, então...
Agora, experimente outro tipo de ousadia
A da inquietude
Da rebeldia
Da insatisfação
Da revolução
Da justiça
Do saber dizer não, pra vê...
Estas não lhe são concebidas
E pobre nem mais será


Imprecisão

Eu vivo
Mas não amo a vida
Vivo porque tenho de viver
Esta imprecisão de movimentos
E de sonhos
Da via vida
Senão serei um fraco
Sem ida
Nem vinda
A precisão que importa à vida lida
É apenas um aporte
Um nado vida.
Morrer
Também não é preciso
Mas morro


Ameaça

Sou sensível a ameaças
Vou logo avisando, viu?
Me sinto acuado
Me torno vulnerável
Tenho direto a me defender

Por isso, minha arma carregada
De palavras magoadas
Está sempre em punho
Engatilhada
Ela cospe centenas por segundos
Que cortam como navalha
Queimam como fogo
E ferem a ferro...

Não adianta me demover da dor
Nem da tristeza que me atormenta
Que mato para não morrer

A não ser que quem tentar
Que tente calmamente
Fazer de mim um querer
Aí é amor que minha arma dispara
- Amor louco, doido e doído, mas amor...
De um alvo só


Passarinho

Às vezes, assim
Parado
Me vejo
De longe
Sozinho...
Aí volto pro caminho
Não de perna
De pensamento
(as asas)
De volta
Pro mundo
Como passarinho
Pro ninho



Engodo

Não se meta a ser livre
A liberdade é puro engodo
Busque-a pra vê!
E descobrirá que ela da medo

Não é assustador saber que sendo livre
A gente não possa ir além
Nem sozinho, nem com alguém?
Pura cilada!

Não se deixe levar pelos pássaros
Só porque têm asas?
Mas têm sempre que pousar
E o que dizer dos peixes
Que nadam, nadam mas não deixam o mar?

Da mesma forma, por ser em vão
Não se meta com a responsabilidade
Outra ilusão!
Busque-a pra vê!
E verá que é igualmente medonha
Pois âncora é de todas as liberdades

Portanto, não seja tolo nem besta
Meta-se apenas com uma coisa
Que também é sua por direito
A felicidade







Comentários

Gorete disse…
Precisa publicar. O Brasil carece de bons livros.
Unknown disse…
Parabéns Betto! Deus abençoe vc, professor e poeta!🙏😘

Mais lidas no blog

CRASE: um fenômeno lingüístico

Acentuação gráfica, para quê?

Sobre trabalho, dar aulas e resignação

A ferradura, o casco e os sapatos

Um carneiro e os outros